As origens de um gigante: Festa do Peão de Barretos - 70 anos
Era 1955. Em uma mesa de bar no coração de Barretos, vinte jovens idealistas, cheios de energia, visão e espírito solidário, decidiram fundar um clube que mudaria para sempre a história do país: Os Independentes. O grupo, formado por rapazes solteiros e financeiramente autônomos, nasceu com o propósito de arrecadar fundos para entidades assistenciais. Mas o que começou como uma iniciativa modesta logo ganharia proporções impensáveis.
No ano seguinte, nos dias 25 e 26 de agosto de 1956, Barretos foi palco da 1ª Festa do Peão de Boiadeiro do Brasil. Aconteceu no Recinto Paulo de Lima Corrêa, onde um antigo picadeiro de touradas virou arena improvisada para gincanas, pau-de-sebo, partidas de futebol e, principalmente, uma competição de doma de cavalos que parou a cidade. Naquele fim de semana histórico, nasceu um novo capítulo do folclore nacional, misturando cultura, esporte e raízes sertanejas.
Na ausência de microfones, os apresentadores — os fundadores Orlando Araújo e Orestes Ávila — se revezavam ao megafone, enquanto Alaor de Ávila organizava os cavalos e convocava os peões. A tropa veio de Franca, cedida gratuitamente por Ismar Jacinto. O campeão da estreia foi Aníbal Araújo, um peão de fazenda que entrou para a história como o primeiro a vencer o Barretão.
O Rancho nº 1, montado por Arthur Vaz de Almeida, o “Tuti”, serviu como sede improvisada da festa, enquanto Beto Junqueira atuava como juiz. Sem saber, eles lançavam as bases de um evento que se tornaria símbolo nacional. Mesmo sem estrutura profissional ou arquibancadas fixas, o público lotava o recinto para ver danças típicas, carros de boi, catira e a tradicional Queima do Alho. A escolha da Rainha era feita pelo próprio clube.
O rodeio, que substituía as antigas Cavalhadas, crescia como a principal atração. Entre os campeões da década, nomes como Anésio Teixeira (1957), Luiz Gonzaga de Araújo (1958) e Zé Ribeiro (1959), o primeiro vencedor de fora da cidade, já indicavam que a festa começava a romper fronteiras.
Hoje, aos 97 anos, José B. Tupynambá, o Sr. Tupy, é o único fundador ainda vivo. Com a memória viva e os olhos marejados, acompanha, ano após ano, o que a Festa de Barretos se tornou.
“Até hoje me emociono quando chega a Festa. Fico abismado com o tamanho que o evento alcançou. A gente não fazia ideia do que viria pela frente… só tínhamos amor por Barretos, amizade entre nós e muita vontade de fazer acontecer”, diz, com a serenidade de quem viu o impossível nascer de uma mesa de bar.